Stay Heavy!!!
Querido Heavy Metal,
Somos amigos há muito tempo, não é verdade? Lembro do dia em que nos conhecemos, quando eu e meu irmão fomos até a Chalé Discos (ou já era Sax Som Discos? Não lembro bem), em Ferraz de Vasconcelos, no ano de 1991. Já éramos amantes do rock tradicional naquela época, eu com sete anos de idade e ele, com dez. Assistíamos os vídeos na TV sobre o icônico Rock n’ Rio II, famoso festival de música brasileiro, e descobrimos que o disco de vinil oficial do evento estava à venda. Munidos de pouco dinheiro, decidimos comprar o “Rock n’ Rio – Internacional”.
De início, foi um balde de água fria. Não havia Faith no More, desde cedo minha banda favorita, e nem Guns ‘N Roses, a preferida do meu irmão. A coletânea era uma bagunça, uma mistura de todos os gêneros que tocaram no festival. De A-ha, New Kids On The Block, Lisa Stansfield, subindo o tom para Joe Cocker, Carlos Santana, Billy Idol e…Megadeth e Judas Priest.
As duas bandas de heavy metal fechavam cada lado do disco. Megadeth com “Holy Wars…and The Punishiment Due” no Lado A e Judas Priest com “Painkiller” no Lado B. Lembro-me da sensação de ter o cérebro colado no teto quando ouvi as duas canções pela primeira vez. E de que também acabara de fazer um novo amigo. Você.
(jovem Branco num show)
Tenho feito terapia no último ano. A ansiedade e a raiva me acompanham há um bom tempo, e os últimos anos, atravessados por pandemia, presidentes genocidas, instabilidade profissional, entre outros, fizeram-me amplificar esses males da mente e a beirar o alcoolismo. A progressão anda bem, e estou aprendendo a lidar melhor com tais sentimentos. Durante o tratamento, descobri que música alivia a minha ansiedade e me acalma. Especialmente, suas guitarras distorcidas, bumbos duplos e vozes rasgadas.
Não sei se isso é apenas uma questão de gosto musical, ou simplesmente, coincidência. Mas tenho um palpite:
Porque você, melhor do que ninguém, sabe falar sobre o lado escuro da nossa alma. Dos nossos medos, dores, superstições e claro, raivas e ansiedades. Afinal, quantas vezes você foi acusado de “música do diabo”, e perseguido por gente tacanha e ignorante?
E sobretudo, mesmo com toda essa carga pesada sobre os ombros, você é capaz de transmutar essa densidade em energia positiva, poderosa e libertadora, onde lá atrás, o pequeno Branco (meu apelido) sentiu-se forte e protegido.
Despeço-me com um pedido. Que continuemos nossa amizade pelos anos que me restam, para que eu continue a me sentir forte e protegido mesmo lá na frente, velho e fraco. Não sei o que posso te dar em troca. Talvez, escrever algumas letras, caso alguns jovens cabeludos, de colete e calça apertada, me peçam ajuda.
Stay heavy!
Para conhecer mais sobre minhas obras, clique aqui!
Deixe um comentário